A Orquestra Mascarada
Clotilde
Sua máscara a princípio seria totalmente fechada, mas como seus olhos são esses dois absurdos, resolveu-se mostra-los em todo seu apogeu e queda. Sobre a cartilagem de papel machê foram inscritos os signos das sete pragas e ao redor de sua boca foram pendurados certos trancelins, as cordas vocais de 21 cantoras suicidas. É meio incômodo, atrai moscas, vermes, baixistas, mas ela não está nem aí. Rebola, com seu vestido de gazes. Resumindo; a ex-namorada.
Duba - Dubá
Só volta pra casa depois que enche aquela carranca de pinga. Mas sua casa nunca está lá. Aliás, nunca esteve. Soubemos que já teve mulher, carro, computador, essas coisas, mas trocou tudo por uma guitarra monocórdia em certa encruzilhada lá pras três da manhã. Segue a vida assim, em direção ao centro, acompanhado de sete lobos Guarás, frequentemente confundidos com cães de rua.
Abaddon
Feche os olhos. Sinta o tremor das araucárias. Imagine quando os mamutes reinavam. Agora Imagine as máscaras feitas pelos neaderthauns durante as noites de incerteza. Foi numa dessas que um deles sonhou um mastodonte de ouro. Acordaram todos com o barulho, mas logo tornaram a dormir. Desinventava-se naquele instante o trombone.
Rastapack
O espírito protetor dos terrenos baldios, dos córregos canalizados, dos aterros sanitários. A entidade que vela pelos tempos quebrados. Uns dizem que nasceu com Kafka quando foi á Africa. Outros se calam. E dançam, mal. Sua máscara foi encontrada presa a moluscos de plástico em uma caçamba atrás do Pão de Açucar.
Anhangá
Fizeram voto de silêncio as freiras guaranis que confeccionaram sua máscara. Por isso elas não gritaram nem um pouco quando ele surgiu nu em pelo do mato virgem e as devorou. De vergonha escondeu seu rosto com a máscara inacabada, cobriu as partes com palhas de palmeira e fugiu pra peruíbe. No caminho encontrou um clarinete velho, que usou de bico. Hoje, só toca quando lembra daquelas duas diabas. Então ouve-se o som do clarone.
Belfegor
Pela muralha de neblina nada passa. Apenas o urro barítono de mais um navio de refugiados. Na verdade não é nada disso. Quem flutua agora atrás da cortina de fumaça sobre o oceano de óleo é Belfegor, o Deus dos crustáceos e de outros necrófagos marinhos. Em tempos como esses sua grande máscara aflora do infinito manto negro. Ele é o rosto desse mar. Sobre seus intestinos, melhor nem falar.
Lilith
A padroeira dos desquitados. Dos orfãos e dos manetas. Está sempre arreganhando seu teclado. Toca Roendo As Unhas. só vê a vida em preto e branco. Mais preto que branco. Já teve o mundo em suas mãos. Hoje em dia dá aulas em casa pra adolescentes de classe média. As vezes parece que há uma ex-mulher por trás daquela máscara.